Apartamento novo

APARTAMENTO NOVO

A busca é longa
Opções não faltam
Com vista, sem vista
Novo, velho, acabado.
Mas nenhum conserta
Coração destroçado

A família separada
Cada um pro seu lado
Filhos com horário marcado
Amor programado
Não precisava ser desse jeito
Se eles tivessem conversado...

Tudo tão descartável
Fácil trocar o que está quebrado
Só ligar para o atendimento ao cliente
Satisfação garantida, marido trocado.

A dor

A DOR

Vem da separação
Da falta de abraço
Do descompasso
Vem lá do peito, do fundo,
Do ventrículo
Do coração.

Não se entende a razão.
Diabos, parecia na medida
Inesperado
Fim de vida.

A força virá.
Sabe-se lá, virá
Mas a alma pede abraço
O corpo quer carinho.
Ninguém o vê, sozinho.

Pai

PAI

Saiu de casa
A menina ficou
O menino também
Não vão mais se ver todos os dias
A escolha não foi dela
Não foi dele tampouco
Não foi de ninguém

O fim chegou
A família acabou
Pai
Mãe
Filho
Filha
Cada um segue uma trilha

Cansei

CANSEI

Cansei de escrever declarações de amor
Cansei de não ter nenhuma em retribuição
Comprei flores
Não ganhei um cartão
Vivi só pra essa relação
Não pensei em outra, não busquei diversão
De rima pobre, segui fiel
Na esperança que o ato nobre
Fosse um dia recompensado
Esperei gestos sensuais
Corpos desnudos, beijos demorados
Mãos safadas, dedos atrevidos
Mas nada disso veio
Cada vez mais sozinho
Senti falta do carinho
Do abraço gostoso
Da companheira que um dia tive
No fundo no fundo, não sei o que fiz
Talvez tenha sido fiel a mim
Firme no propósito

Eu quero ter alguém
Que me diga que eu sou OK
Não precisa dizer que sou genial
Basta dizer que sou OK

Que diga que eu sou legal
Bacana, animado
Boa dicção, espírito positivo
Um cara de nível, que não assusta
Bacaninha, honesto.

E que possa me acompanhar até o final da vida!

Fogo

FOGO

Queima a lareira.
Primeiro dia de inverno.
Calor gostoso, na medida.
Aquece o corpo.
Mas não chega no coração.

A dor é mais profunda,
O fogo não chega lá.
Lá é fundo,
Muito fundo.

Uma profundidade abissal.
Frio. Frio glacial.
A lareira não derrete esse gelo.
Coração congelado.
Ele sabe porque chegou nesse estado.

Quatro.

Pé na bunda

PÉ NA BUNDA

Não foi suficiente,
Dar o melhor de mim.
Me esforçar assim.
Não, não foi suficiente.

Não bastou.
Gastou,
Acabou.

Não me sinto culpado.
Juro que fiz um esforço danado.
Doutor, inglês, respeitado.
Parece não ter adiantado.
Serviu pra quê ter tanto viajado?
O que eu fiz de errado?

Segui as regras que me ensinaram
E outras que aprendi por conta.
Parece que não bastaram.
Minha cabeça agora está tonta,
Procurando um erro, uma pista,
Pra eu entender, tirar isso de vista.

Depois desse turbilhão,
Procuro um novo caminho,
Uma nova direção.
Talvez alguém que me dê a mão.

Procuro um amor tranquilo, diferente.
Que prefira um tempão abraçado,
A frequentar o lugar mais badalado.
Que não canse de beijos e amassos
E que, juntos, possamos dividir os passos.

Que olhe nos meus olhos demoradamente,
Procurando sabe-se lá o quê.
Que passe a mão no meu rosto lentamente,
Como se eu fosse um bebê.

Que me abrace com força, bem apertado,
e diga "Gosto de você,
do jeito que você é, meu amado."

Quero um amor gostoso, relaxado.
Sem pressa, sem horário marcado.
Vinho branco gelado
Muito beijo melado
Deixando o mundo rodar
Sem hora pra terminar

Quero um amor leve
Menos preocupado com dinheiro acumulado
E mais ligado em estar a meu lado
Beijando minha boca, um amor tarado.

Um amor que solte a mente,
Libere o coração.
Me abrace com força, com emoção,
Que pense na gente, na nossa comunhão.

Um amor que queira ir para o mato,
Dormir acampado na beira do rio
Mas que também pense alto
E dali um mês, voe para Beverly Hills

Um amor leve, gostoso
Despretensioso
Bem-humorado
Divertindo-se a meu lado

Um amor sem julgamento
Que te ama pelo que você é
Sem muito questionamento
Apenas amor de fé
Que acredite que o melhor acontecimento
É estar juntinho, agarrado
Beijando gostoso, bem apertado.

Quente, potente

QUENTE, POTENTE

Beijava-lhe o seio. Delicadamente.
Lambia cada monte, rodeando a língua até o cume distante.
Chegando ao ponto mais alto, sem pressa e com cuidado,
Fincava o dente no bico ouriçado.

A mão descia pela barriga, carinhosa e atrevida.
Na boca macia a língua festejava.
Dentes mordiam lábios carnudos. E a mão avançava.
Abrindo caminho para que fosse penetrada.

Veio. Quente, suado, melado, envolvente.
Forte, poderoso, contundente.
Corpos unidos, peles coladas, almas misturadas. Mentes ausentes.
Dois corpos, um gozo junto. Potente.

Quatro

QUATRO

Para ele eram quatro.
Tudo o que fazia era para quatro.
Sempre quatro.
Não existia outro número, só o quatro.

Não imaginava a vida com outro número.
Esse era o número mágico.
O do quadrado perfeito.
Quadrilátero amado.

Dois filhos, um casal.
Um menino, uma menina.
Um homem, uma mulher.
E tinha que ser assim até o final.

Mas não foi.
O quadrado desmanchou.
Cada lado para um canto.
Quadrilátero desmontado.
Linhas. Soltas.

Ferida

FERIDA

A dor ia e voltava
Sempre uma lágrima brotava
Mas tanto veio e voltou
Que um dia a fonte secou.

No lugar daquela dor doída
Ficou uma ferida
Que cicatrizava lentamente,
Talvez nunca completamente.

Ele não viu o fim chegando
Não viu o amor se acabando
Passou anos querendo ser abraçado
Terminou abandonado, desnorteado.

Sem entender a razão
Buscava novo norte, alguma direção.
Mas vinte anos é uma vida
Vai demorar pra cicatrizar a ferida.

Você não soube me amar

VOCÊ NÃO SOUBE ME AMAR

Lutei constantemente
Pra provar meu valor
Como homem, potente, valente
Macho moderno, audacioso
Cheio de gana, dominante.

Mas ela queria mais,
Não foi suficiente,
Foi pouco.
Fui abandonado,
Riscado,
Depreciado.
Um fraco.
Pouco dinheiro no banco.
O certo virou errado
Perdi o passo.
Tudo o que aprendi,
Foi pro espaço.

Não importa o amor,
Tanto faz o abraço.
Humor não tem espaço.
Sorriso? Coisa de fraco.
Carinho é ficção.
Beijos? Faz um tempão...

Mas o importante é seguir em frente,
Fingir que o que importa,
É ser cidadão do mundo.
Moderno, conectado,
Interplanetário.
Marciano, venusiano.
Não faz diferença se o coração
Está frio, congelado.
O importante é conquistar tudo!
Ser ágil, esperto, admirado.
Família!???
Coisa de fraco, desesperado.

Mulher moderna não precisa de homem.

Mulheres virtuais

MULHERES VIRTUAIS

Dão abraços virtuais,
Cumprimentos eletrônicos,
Palavras gentis, que chegam luminosas
Na tela do celular.
Não tocam o corpo.
É tudo mental,
É tudo virtual.

Ao invés de abraço apertado,
Ou um beijo molhado,
Vem um texto, digitado.
Consola um pouco,
Mas longe de ser adequado.

Esperava o corpo da amada
Junto do seu, entrelaçada.
Mas o momento era outro,
De dor, de separação
De solidão real
Não virtual.

No sofá

NO SOFÁ

Não quero muito,
Só alguém que me abrace.
Passe a mão no meu rosto,
Encoste a cabeça no meu peito,
Me mostre um pouco de respeito.

Não quero admiração cega.
Aceito crítica.
Carinhosa, positiva, construtiva.
Mas amorosa, amiga.

Ah, abraço...
Ah, beijo carinhoso...
Ah, momento gostoso..
Descompromissado, descomplicado,
Abraço pelo abraço, relaxado.

Mentes despreocupadas,
Aéreas, apaixonadas.
Focadas em dar amor,
Mais NADA.

Beijo gostoso, molhado.
Mordida no lábio.
Abraço apertado.
Carinho no rosto,
Pegada.

Quero um amor

QUERO UM AMOR

Que me abrace
Que me amasse
Que me tocasse

Um amor leve
Carinhoso
Amoroso
Preguiçoso

Sem pressa
Beijoqueiro
Um amor
Prazeroso
Gostoso

Simples
Sem preocupação
Curtindo a vida
De montão

Deitados
Lado a lado
Os dois pelados
Ah, beijos demorados

Sem compromisso
Vivendo nesse feitiço
Lado a lado
Grudado

Falta de gozo

FALTA DE GOZO

O corpo sente falta
De carinho, de abraço.
A mente sente falta
De conversa, de conexão.
De verdade, o que falta,
É paixão.

Corpos desnudos,
Sem pressa no abraço.
Carinho total.
Beijinhos no pescoço,
Mãos atrevidas.
Prazer. Animal.

Um dia houve.
Era forte, vigoroso.
Até filhos nasceram,
Desse gozo gostoso.

Mas o tempo veio,
Impiedoso.
Destruiu o tal gozo,
Matou o amor,
Trouxe rancor.
Ficou a dor.